sábado, 5 de novembro de 2005

Beija ou não beija? Não beijou!




Quem me conhece um pouquinho sabe que eu não perco uma boa novela. Lá em casa todos somos noveleiros. “Nasci e me criei” vendo novelas e até meu pai que diz não gostar (brincando, claro!), fica a noite toda em frente à TV. É engraçado, porque ele finge estar dormindo, mas sabe, como ninguém, os nomes dos personagens todos com muita precisão… Aliás, diferente de alguns, não acho que as novelas sejam alienantes ou cumpram o papel de ópio do povo. Tudo pode ser ópio do povo dependendo do ponto de vista. Até a militância cega e a arrogância intelectual que descarta tudo o que vem da indústria cultural. Ela é tão constituinte da cultura brasileira como o carnaval, o futebol, a praia de Ipanema, enfim.

Quem não lembra da morte de Odete Roitman? E a relação de Raquel e Maria de Fátima? Quem não se deliciou com Gabriela de Jorge Amado? Quem não sorriu com o mais engraçado dos triângulos amorosos que o país já viu protagonizado por Lima Duarte (Sinhorzinho Malta), Regina Duarte (Viúva Porcina) e José Wilker (Roque Santeiro)? E a Perpetua de Tieta? Enfim, são vários os exemplos que remontam a dramaturgia brasileira e o nosso encanto por ela.

Por outro lado, as novelas vêm perdendo em muito a sua qualidade imaginativa. Vem se tornado mais do mesmo, repetitivas. Hoje, como a maioria do povo brasileiro, assisti ao último capítulo de “América”. Todos à espera do tão falado beijo entre Zeca e Júnior (que aliás, já vem tarde; o teatro e o cinema brasileiros já o fizeram pelo menos há 30 anos). Mas o boi bandido venceu e o beijo não aconteceu. Quem sabe 30 anos mais tarde aconteça. E aí a novela perde, de novo, uma ótima oportunidade de influenciar. Pois se as novelas são reprodução social, ou seja, refletem os conflitos, os tabus, os desejos, as esperanças de um povo; também podem ser criação social. As novelas fazem isso. Por meio da criação, ditam modas, sinaliza novos caminhos, fazem as pessoas refletirem acerca das possibilidades da vida cotidiana. Ela tem esse poder.

Não colocar na tela um beijo entre duas pessoas do mesmo sexo (que já nem deveria ser tão polêmico assim) foi um ato de pouca ousadia. Perdeu uma boa oportunidade para influenciar nos padrões de comportamento, ou de pelo menos, sinalizar nesse sentido. Numa sociedade que se diz tão plural, aberta, isso não deixa de ser revelador. E a cena dos dois foi bem mixuruca… Como o restante da novela.

Uma pena!

2 comentários:

Anônimo disse...

Marcos, embora já não tenha mesmo paciência para novelas, concordo com aquilo que disseste. Acho que, para além do mais, as novelas assumem outro papel, um papel educacional. É muito interessante. Dava uma bela tese...

abraço

cris disse...

Li por cá q foram as "cúpulas" da Rede Globo q decidiram censurar o beijo. Enfim, uma decepção, depois de tanto marketing. Será que na próxima novela alguma coisa muda?