sexta-feira, 18 de fevereiro de 2005

Mistérios do mar


Terra estrangeira - Abril despedaçado Posted by Hello

Sempre gostei do mar.
Nasci perto dele e o tenho em meu nome.
É misterioso: ao mesmo tempo amedrontador e belo, ao mesmo tempo violento e possuidor de uma encantadora ternura. Em pelo menos dois filmes de Walter Salles ele aparece de maneira definitiva. No primeiro, Terra estrangeira, somente ele presencia o amor de Paco e Alex: no carro, na praia. Ele está lá, cúmplice, integrando a cena, de maneira a não ser mais preciso nada, nem diálogo. No segundo, Abril despedaçado, ele se torna signo de liberdade, do mundo desconhecido, da transgressão. Questionando a lógica da violência e tradição em que mora – marcada pela guerra entre duas famílias – Tonho procura rompê-la. Quebra um ciclo de mortes ao, impelido pelo pai a vingar a morte de seu irmão mais velho, renunciar esse papel. Para além daquele cotidiano e daquela comunidade, o desconhecido. Na última cena do filme, Tonho está em frente ao mar, que sempre desejou conhecer, liberto.
Hoje, lendo Sophia de Melo Breyner, que cito abaixo, lembrei disso tudo. De minha ligação com ele, das lembranças que ele me traz, de uma parte de mim...

As ondas quebraram uma a uma
Eu estava só com a areia e com a espuma
Do mar que cantava só pra mim.

2 comentários:

cris disse...

Ai, as saudades q sinto do meu mar... Aproveita tudo, por mim também! bjs

Anônimo disse...

Faço minhas as palavras da Cris e deixo-vos com um poema de Eugénio Tavares, um dos grandes intérpretes do maravilhoso espírito Cabo-verdiano:

"Canção ao Mar - Mar Eterno

Oh mar eterno sem fundo sem fim
Oh mar das túrbidas vagas oh! Mar
De ti e das bocas do mundo a mim
Só me vem dores e pragas, oh mar

Que mal te fiz oh mar, oh mar
Que ao ver-me pões-te a arfar, a arfar
Quebrando as ondas tuas
De encontro às rochas nuas

Suspende a zanga um momento e escuta
A voz do meu sofrimento na luta
Que o amor ascende em meu peito desfeito
De tanto amar e penar, oh mar

Que até parece oh mar, oh mar
Um coração a arfar, a arfar
Em ondas pelas fráguas
Quebrando as suas mágoas

Dá-me notícias do meu amor
Que um dia os ventos do céu, oh dor
Os seus abraços furiosos, levaram
Os seus sorrisos invejosos roubaram

Não mais voltou ao lar, ao lar
Não mais o vi, oh mar
Mar fria sepultura
Desta minha alma escura

Roubaste-me a luz querida do amor
E me deixaste sem vida no horror
Oh alma da tempestade amansa Não me leves a saudade e a esperança

Que esta saudade é quem, é quem
Me ampara tão fiel, fiel
É como a doce mãe
Suavíssima e cruel

Nas mágoas desta aflição que agita
Meu infeliz coração, bendita!
Bendita seja a esperança que ainda
Lá me promete a bonança tão linda